domingo, 16 de agosto de 2009


Ele é o meu contato para depois de meia-noite. Eu funciono bem de manhã, sou sonolenta no turno da tarde, preguiçosa pela noite e ativa na madrugada. O relógio dá as badaladas indicando um novo dia e eu me animo toda. Tenho um milhão de ideias, meu raciocínio se torna rápido, me torno um ser criativo capaz de resolver qualquer equação matemática. Aí são filmes, seriados, textos, livros, monto looks incríveis para a festa de daqui um mês, treino maquiagens bárbaras que nunca usarei. Só que, às vezes, parece que eu esgoto todas as minhas possibilidades. Eis que ele entra em ação. O meu contato para depois da meia-noite. O nome dele está o dia quase todo nas opções on-line da internet, entretanto eu sei que ele só está mesmo lá de madrugada. E, droga, ele descobriu essa minha história de insônia. Aí, ele vai vendo a minha carinha e já vem puxando o maior papo. E se convidando para sair comigo. Para tomar vinho, jantar, ir ao cinema, conhecer a família dele, etc e tals. E ele se mostra tão disposto a me ver que eu faço ele pegar o carro às 3 horas e vir correndo aqui em casa. Eu desafio, ele aceita com aquele sorriso todo. E, olha, eu garanto, ele nem precisaria sorrir para mim. Porque quando ele se aproxima parece que bate um vento que me arrepia toda e, ao mesmo tempo, me esquenta. E a gente tem tanto assunto que nem precisa falar nada. Ele só me abraça e fica tudo bem. Eu respiro fundo e seria capaz de ficar ali imóvel por horas, dias, se fosse preciso. Só que aí ele vem e me coloca no colo. Parece que ele adivinha que eu, em alguns momentos, só quero me sentir protegida. E a gente fica assim. E ele me beija. Por longos minutos. Incrível como não acaba o fôlego. De repente, ele para, me olha e beija de novo. E, assim, a gente vai até amanhecer. Ele me pergunta se eu não tenho que acordar cedo no outro dia. E eu tenho, claro. Mas eu digo que não, porque é tão bom ficar daquele jeito. De vez em quando, alguém me pergunta se ele não seria o meu par perfeito. Não, ele não seria. Ou até seria, sei lá. Mas eu gosto tanto de não conhecê-lo suficientemente bem, de não saber se ele gosta mais de azul ou de verde, de praia ou de montanha. Gosto de vê-lo pouco. Ou quase nunca. Gosto de ele me procurar e eu não ter o mesmo empenho. Não, ele não é o meu estepe. E se fosse, acreditem, ele seria o meu estepe de luxo absoluto. Algo como um vestido de noiva Oscar de la Renta, um sapato Manolo Blahnik, uma bolsa Louis Vouitton. Você é louca para adquirir, mas quando consegue (e se consegue), usa com esmero, porque quer ter para sempre. Então, eu deixo ele para de vez em quando. Para ele não conseguir se lembrar das minhas tolices. Eu o deixo para quando eu realmente preciso. Para quando só ele vai entender os meus instintos rapidamente. E não vai se sentir ofendido com esse meu eterno desapego. Não vai me cobrar nada. Vai me deixar brincar depois da meia-noite e só.