domingo, 8 de agosto de 2010

Mais uma vez o alarme tocou. Da primeira vez, eu me levantei para desligá-lo porque já não aguentava viver do passado. Da segunda, foi pelo fato de que eu já havia me aconchegado na moldura benignamente emprestada. Mas, da terceira, faltou fôlego. E sobraram dúvidas. Na minha mente, cada lâmpada acesa em uma noite fria numa cidade grande representava um ponto de interrogação. Como se a luminosidade advinda de uma lua cheia não mais bastasse para clarear os pensamentos. Tudo o que era certo, todas as afirmações feitas, todo o construído foi encoberto por uma penumbra que afastava qualquer vestígio de lucidez. Tenho preguiça dessas pessoas que se submetem ou deixam de lutar por si mesmas. E daquelas que fogem ao menor sinal de fumaça. Contrario a máxima de onde há fumaça há fogo. Se você já testemunhou o sofrimento de quem tem sido castigado por uma alguma patologia diariamente pode me entender. O príncipe da minha infância, o homem mais forte do mundo (mais lindo e mais corajoso), o dono da minha alma e senhor da minha razão tem definhado. Eu me direciono para ele desviando o olhar ou procurando um reflexo no espelho. E nem por isso ele desistiu de algo ou soltou a corda que nos une. Pelo contrário, ele me dá um sopro de vida todas as vezes que acho que atingi o meu extremo. Hoje foi um desses dias. Porque, nas palavras dele, se você não acreditar em você, ok, ninguém mais acreditará e, não, você não terá direito de reclamar disso. Desde então me deu uma vontade de abraçar o mundo de novo. E retomar a crença em cada uma das minhas convicções depois de uns dias de “ah, sei lá!”. Eu poderia ter fugido. Mas nem saberia para onde. Eu poderia ter pulado da janela sem uma rede de segurança. Mas nem a exaustão de fantasmas que me afligem justificaria desafiar a gravidade. Mas, para falar a verdade, eu me nego a fugir. Por mais que alguns dias, simplesmente, deixem de amanhecer. Eu aprendi a encostar meu corpo já tão cansado na falta de claridade. Eu posso conviver com minhas dúvidas sem magoar ninguém. Eu posso escolher por não decepcionar as pessoas ao meu redor porque eu entrei em crise de consciência. Abalos sísmicos não indicam o fim do mundo. Nem tudo desabará a qualquer momento. Aqui reside o que eu preciso. Logo, não me aventurarei a atravessar a rua para dirimir as questões atormentantes da minha existência. Permaneço. Às vezes, perene. Quase sempre, à beira de um ataque de nervos. O alarme continua tocando, até mesmo porque o meu silêncio convicto é mais amedrontador do que qualquer filme de terror. Nem eu mesma aguento a explosão contínua de ideias em minha mente. Mas não concebo dirimir todos os conflitos. Algumas vezes eu questiono meus planos. Muitas eu penso em deixá-los de lado. E enquanto o alarme dispara, alimento meus potenciais traumas. Mas eu, ainda, não encontrei qualquer justificativa para desistir do que eu tenho e do que eu sou. Por mais que doa, por mais dilacerante que seja, por mais mortal que pareça a arma apontada para mim, sair, agora, não resolveria nada. E não é que eu não queira buscar novos horizontes. Para isso, eu não tenho que, necessariamente, deixar para trás o que eu consegui até o presente momento. Fugir não traz alívio se você nem sabe qual o rumo seguir. Fugir só demonstra que todas as suas certezas não devem ser certezas, pois, se fossem, não seria preciso fugir. O alarme pode continuar berrando. Não me importo!