quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ontem eu quase desmaiei. Ontem foi um daqueles dias que eu torci para acabar rápido. Ontem foi um dia que considerei perdido. Ontem foi meu terceiro dia de febre intensa, tosse, espirros e dores do corpo. Ontem foi o dia que acordei após 15 horas de sono profundo. Ontem eu resolvi que faria tudo o que vinha adiando. Aula chata com chamada. Organização da minha sala. Verdades para o chefe II. Deveres de casa. Amigos novos. Reuniões para o trabalho voluntário. Caronas. Banco. Compras. Contas. Ontem eu quis fazer tudo o que não fiz em um mês. Ontem eu decidi que queria te ver. Ontem te encaixei no meu dia. Com a pior das desculpas. Inventei desculpas só para mim (nem me preocupei em passá-las a você). Ontem eu percebi que precisava te ver. Eu tinha que lembrar do seu rosto com precisão. E não podia ser em um jantar romântico ou em uma peça de teatro. Eu necessitava te ver em um outro ambiente. E fui. Ontem eu vi que falta um pouco de tinta no seu mundo. Ontem eu te olhei e te achei lindo. Amei seu corte de cabelo, sua barba por fazer. Acrescentaria cores à sua blusa, trocaria o seu sapato e roubaria as suas ideias brilhantes e saídas inteligentes. Ontem eu tive certeza que o nosso amigo tinha razão quando disse que você era perfeito para mim e eu era perfeita para você. Mas aí veio a vertigem e eu quase desmaiei. Nas escadas, na sua sala, no seu quarto. Tudo escureceu. E o mundo girou ao meu redor. Ontem eu juro que quase desmaiei. Eu juro, juro, que queria justificar colocando a culpa no calor ou na minha má alimentação do dia. Ou na minha gripe. Eu juro que queria que fosse qualquer dessas possibilidades. Mas não foi. Eu juro que me dói dizer isso. Ontem eu quase desmaiei, porque quando te vi com todo aquele ar irônico e aqueles olhos de cumplicidade, eu pensei que seria feliz ao seu lado. E eu quase desmaiei nessa hora, porque eu percebi que tenho pânico de relacionamentos tranquilos e potencialmente bons. Eu quase desmaiei, porque me odiei por falar tantas bobagens e tentar parecer uma criança de cinco anos de idade só para você não gostar de mim. Eu juro que me odiei por colocar tudo a perder. E eu quase desmaiei quando você esticou os braços para me abraçar e me tocou com aquela malícia toda. Eu juro que me odeio por causa desse pânico todo. Eu juro que te queria aqui medindo minha temperatura de cinco em cinco minutos. Eu juro que queria estar aí para cuidar das suas infindáveis dores nas costas. Ontem foi o dia que eu quase desmaiei para te evitar.