sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Quando o meu irmão entrou correndo no meu quarto, eu me lembrei o quanto eu preciso ir morar sozinha Em suas mãos, um cartão: "Sinto muito (e sinto saudades), com amor." Hahahaha! Ai, minha ressaca. Lembrar de não misturar bebidas da próxima vez. Eram flores! Flores para mim? Quantas vezes eu repeti para aquele idiota que eu não gosto de receber flores? Que eu gosto de flores, mas não de recebê-las...? Você ganha as flores e quando começa a se acostumar com elas já é mais do que hora de encaminhá-las ao lixo. Ficam feias tão rápido. Flores, flores, flores! O que eu faço com elas? Nenhum vaso eu tenho para colocá-las. Ninguém nunca tinha me mandado flores. Talvez porque todos os outros simplesmente prestassem atenção no que eu falava. Foco: qual o destino delas? São orquídeas, as minhas favoritas. Na minha imensa prolixidade devo ter repetido mil vezes o quanto as orquídeas são as minhas prediletas. Como elas são lindas! E combinam tanto com a decoração do meu quarto. Orquídeas! Ele prestava atenção nas minhas falas fúteis? Escutou quando eu falei das orquídeas? Melhor eu acabar com isso logo (antes que eu realmente acredite que ele prestava atenção no que eu dizia). E o cartão? Acompanhará as flores? "Sinto muito"... sente nada, porque nunca sentiu nada, nunca lamentou nada, nunca se preocupou com nada. Só se sentir muito não ter quem lembrar dos compromissos inadiáveis dele ou fazer aquilo que ele deveria fazer. Sente nada! Nunca sentiu o que eu desejava que ele sentisse. E "sente saudades"? Saudades? Eu não sinto saudades..... Quando eu fecho a porta do meu quarto e assisto à mesma comédia romântica dez vezes, eu não sinto saudades dele. Nem quando eu vejo camisetas amarelas nas vitrines do shopping (ainda vou descobrir quem disse que ele ficava bem de amarelo). E muito menos sinto saudades da sua companhia nas minhas frequentes passagens por fast-foods. "Com amor"! Sabe que faz tempo que eu deixei de acreditar que ele fosse capaz de amar alguém além dele mesmo? Com exceção da mãe, claro. Vou jogar as flores no lixo. Antes que elas me hipnotizem de vez. Agradeço? Um telefonema, um e-mail, uma mensagem? Papai sempre me ensinou o valor da boa educação. Agradeço.