sábado, 17 de outubro de 2009

Entrego-me irracionalmente à flagrante confusão estabelecida e ao iminente sofrimento causado pela quase rendição aos meus instintos. Tudo para evitar arder eternamente nas chamas das profundezas do inferno. Não quero o céu. Não, não, não! Tenho pecados demais para pleitear tanto. Confesso todos os meus erros. São muitos, tantos. Só não quero mais me queimar com tamanho ardor. Minha epiderme, já tão desconfigurada, clama energicamente por um intervalo de descanso, mas não de paz. Meu eterno vício pela dor tem me intoxicado cada dia mais. A clínica de recuperação, minha morada nos últimos meses e anos, já me acena loucamente. E lá se vão mais algumas rúpias. Junto vai meu estômago, outrora pouso de borboletas, e minha serenidade, assaltada a cada nova estação. Ladrão!, devolva tudo o que é meu. Estado, puna. Exijo reparação por perdas e danos. Vida, encaminhe-me para a obviedade que já deveria ter sido consagrada como clichê. Nando, não pare de repetir a velha canção até que eu me convença da sua sabedoria. Com as minhas ânsias hodiernas, tome também minha alma e as minhas paixões fracassadas sacrificadas e dilaceradas pelo tempo. Carregue meu desespero, não mais leve, e, ainda, minha tontura diária e minha eloquente burrice. Todos para o local mais distante que possa existir. Para a terra do nunca ou para o canto onde tudo é possível. Incendeie aquilo que me polue e me envenena. Deixe-me tentar novamente e recomeçar. Do zero. Como se não houvesse tudo até agora ou como se o tudo fosse nada. Conceda-me a redenção. Permita-me ser o que já não sou há tanto tempo. Reinicie-me. Já!